10/10/2011

Memórias retroactivas: os carros da minha vida


Não deixa de ser curioso que eu, sendo a mais velha de três irmãos, não tenha grandes memórias do dia em que os mais novos nasceram... Sobretudo considerando as imagens de infância que por vezes me vêm à memória e que se relacionam com os sucessivos automóveis que o meu pai ia adquirindo enquanto cresciamos.
Mas descancem os meus irmãos*, pois quase sempre essas imagens têm a ver com a sua existência.
Começando então pelo início...


1985 - O Citröen AX

















Devia correr o ano de 1985, pois havia uma novidade no banco de trás. Ao meu lado repousava uma alcofa que fazia pendant com o próprio carro, ambos vermelho cereja. Mas mais importante que o curioso objecto, era o seu conteúdo. A minha irmã! Linda, a Catarina tinha chegado a este mundo já cheia de estilo e atitude, com um cabelo farto. Bem negro. E uma franjinha muito curiosa, que eu adorava examinar com o meu olhar de irmã mais velha.
Os tempos eram outros, não hajam dúvidas! Mas se dúvidas houvessem, segue a confirmação.
Eu viajava então livremente no banco de trás, sem cadeirinha, sem cinto. Tal como a minha irmã, na sua alcofa deslizante, que eu tentava, com os meus 3 anos acabados de completar, estabilizar face à estrada ziguezagueante.
Mas ela chorava incessantemente. E nem o sorriso radioso da nossa mãe que, em conjunto com o seu braço atento, amiúde se dirigia para nós duas, parecia resultar.
"Duarte, encosta aí à frente..." Ouviu-se a sua voz impaciente de mãe jovem mas atenta.

Não me recordo completamente de como tudo aconteceu, mas recordo-me muito bem de me sentir "crescida" pois, de repente, a mim se destinava o banco da frente... Pelo resto da viagem!
À data, nem sequer nos bancos da frente era obrigatório usar cinto, mas a carga era mais valiosa que o habitual, por isso a diligência foi feita.
E ainda bem, pois os meus olhos, por essa altura, já pesavam, e a barra diagonal do cinto tornou-se num perfeito apoio de cabeça. E esta correspondeu, divagando livremente o resto do caminho em sonhos mirabolantes de franjinhas ralas e crianças crescidas!



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* não me parece que os mesmos estejam muito preocupados com os meus lapsos de memória à data das suas chegadas a este mundo, mas achei que a frase começava bem assim.

3 comentários:

doida disse...

Menina, menina: descansem!
Gostei da prosa, mas o carro era cinza!!! de resto, está perfeita a descrição da mana! Bjs

Cristina Trancoso disse...

Eu sei, mãe! Foi de propósito :)
Beijo!

Catarina Trancoso disse...

ooooohhhhh :) que fantástico mana :) obrigada! e gostei mt da prosa em si, acho que podias tb começar a apostar nuns escritos destes :)
beijo grandão!